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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Para não ser feliz


Era de estatura mediana, muito branca, muito magra, olhos tristes (na verdade vazios, um vazio frio), cabelo comprido e liso de um castanho claro. Trabalhava como secretária em uma grande empresa. Andava sempre coma cabeça baixa, vestida como mandava o protocolo, mas sem sal, sem destaque, sem cor. Fazia tudo impecavelmente perfeito e amava o chefe. Aí como o amava! E quando ele passava ela olhava e analisava cada detalhe, cada traço, cada reação. Mas fazia isso com uma destreza que ninguém jamais perceberia essa sua paixão.



Nem mesmo o chefe que a cumprimentava e elogiava sempre. Este alias não a via tão sem sal assim. Ele tentava se aproximar devagar, tinha interesse, queria decifrá-la. Mas ela, sempre fugidia logo baixava os olhos e falava baixo, mas sério. E ele pensava: "Ela nunca olhará para mim diferente". E assim ficou durante todos os anos que os dois se encontravam diariamente. Ninguém nunca saberia, e nada nunca iria acontecer. Uma história terminada antes do começo.



Simplesmente porque ela tinha medo da felicidade. Tanto medo que se esquivava dela, a tal ponto, que nem sabia se a havia possuído um dia. Se por acidente, em um breve instante que fosse, a felicidade a tomasse pela mão, dava logo um jeito de descobrir-se triste ou solitária (ou ambos!). Se a felicidade lhe batesse a porta, diria ela: "Xô, xô não te quero aqui, vá atormentar outro."



Prefiria ela permanecer sem nunca provar uma gota desse doce néctar, do que tê-la por um breve tempo, depois perdê-la e se descobrir mais triste e vazia do que antes. Ah, aquele vazio que tinha dentro de si... Como se tivessem entrado e lhe roubado tudo, até a alma. Um vazio cada vez maior que a consumia de dentro para fora. Mas pensava que quenado já corriqueira, a solidão não dói, mas uma vez que se perde o costume, ela volta ainda pior! Como ferida antiga que sangra, machucado sobre machucado. Assim como a frase: "A dor acostumada não se sente...".



E toda vez que aquele homem lindo, de sorriso perfeito se aproximava ela se afastava repetindo sempre consigo: "A dor acostumada não se sente".

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